Homem virou monogâmico por medo de DTS
Para o dicionário a monogamia é o
costume ou regime que é imposto ao homem ou à mulher de ter apenas um
cônjuge, enquanto se mantiver vigente o seu casamento. Mas segundo uma
pesquisa da Universidade em Waterloo, no Canadá, e do Instituto Max
Planck para Antropologia Evolucionária, na Alemanha, a monogamia não
apareceu para os humanos só como questão social, mas como forma de
sobrevivência da espécie.
Usando
técnicas matemáticas, os pesquisadores analisaram se as DTSs (Doenças
Sexualmente Transmissíveis), que podem causar infertilidade, afectaram o
tamanho das populações nos últimos 30 mil anos. De acordo com o estudo,
publicado na revista Nature, em grandes sociedades
poligâmicas, onde um indivíduo tinha várias parceiras, as doenças se
tornavam endêmicas, reduzindo a taxa de fertilidade e o número de
pessoas.
Nas comunidades poligâmicas
pequenas, os pesquisadores descobriram que os surtos das DTSs foram de
curta duração, sem grandes consequências, permitindo que a população
continuasse com esse comportamento.
Com
isso os pesquisadores avaliaram que as comunidades passaram a reprimir
relacionamentos poligâmicos para evitar doenças que causavam
infertilidade, garantindo a continuação da espécie. Essa mudança teria
acontecido após a popularização da agricultura, pois enquanto a
sociedade sobrevivia da caça, as comunidades eram menores e não havia
tantos parceiros sexuais.
Para o
matemático Chris Bauch, da Universidade em Waterloo, co-autor da
pesquisa, o estudo mostra como eventos naturais, como a propagação de
doenças contagiosas, podem influenciar o surgimento de normas sociais.
Não é bem assim
Para a psiquiatra Carmita Abdo,
coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade), ligado à
USP (Universidade de São Paulo), não foram as doenças que deram origem a
monogamia, mas a distribuição de renda. “Os humanos se tornaram
monogâmicos por diversas razões, sendo a economia a principal. As
pessoas vão se concentrando dentro de uma família para poder criar
filhos. Se ele tiver filhos com várias mulheres fica difícil sustentar
todos eles. Isso fica claro em sociedades poligâmicas. O indivíduo pode
ter várias famílias desde que possa amparar todas elas“, explica.
Para
a psiquiatra, a monogamia é que levou à redução das doenças e não o
contrário. A medida que os grupos populacionais cresceram era preciso
reorganizar a forma de distribuição de alimentos. Era necessário haver
uma família para dividir as tarefas e distribuir a renda.
Mas, de acordo com a psiquiatra, a pesquisa não está de todo equivocada. “Concordo
com o autor quando ele diz que os eventos naturais como a propagação
das doenças influencia julgamentos sociais e morais“, afirma.
Mas
será que se as DTSs deixassem de existir, as pessoas ficariam mais à
vontade para deixar de lado a monogamia? Para Carmita, nesse aspecto não
se trata apenas da protecção contra doenças ou da reorganização da
economia. “As razões se fortalecem com a história e vão muito além da evolução das doenças“.
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